Com a 30ª edição da COP30 (Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas), que acontece de 10 a 21 de novembro, no Brasil, os olhos do mundo se voltam para o país e para o debate sobre sustentabilidade e responsabilidade climática. Nesse cenário, o segmento da construção civil se destaca tanto pelo seu impacto quanto pelo seu potencial de transformação.
Atualmente, o setor responde por 37% das emissões globais de carbono, segundo estudo desenvolvido pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP) e pelo Centro de Ecossistemas e Arquitetura da Universidade de Yale. Além disso, segundo dados da World Steel Association, uma das maiores e mais dinâmicas associações industriais do mundo, sediada em Bruxelas,, aproximadamente 50% da utilização mundial de aço vai para o setor de construção.
Esses dados reforçam que a indústria da construção precisa alinhar suas práticas às metas ESG (Ambiental, Social e Governança) focando em desafios que . envolvem redução e otimização do consumo de materiais e energia, redução dos resíduos gerados, preservação do ambiente natural e melhoria da qualidade do ambiente construído.
Mudanças dos conceitos da arquitetura, reduzindo as demolições; busca de soluções com uso racional de energia ou de energias renováveis; reduzir o uso de materiais com alto impacto ambiental, ou seja, os resíduos da construção e ter a perspectiva do ciclo de vida das obras são medidas relevantes não apenas para o meio ambiente, mas também para questões legais, já que a sustentabilidade está prevista na Lei de Licitações (Lei nº 14.133/21), no artigo 18, § 1º, o qual consta que nos estudos técnicos preliminares para contratação, devem ser discriminados “os possíveis impactos ambientais e respectivas medidas mitigadoras”.
O artigo 45 também trata das obras e dos serviços de engenharia, trazendo normas expressas que remetem à sustentabilidade, sendo no inciso I, a “disposição final ambientalmente adequada dos resíduos sólidos gerados pelas obras contratadas” e, no inciso III, a “utilização de produtos, de equipamentos e de serviços que, comprovadamente, favoreçam a redução do consumo de energia e de recursos naturais”.
Isso significa que não se trata mais de uma agenda apenas ESG, mas sim de uma lei para que o setor foque nas ações sustentáveis e minimize os impactos que gera. A boa notícia é que a chave para essa transição já existe e está sendo difundida no mercado. Trata-se do Building Information Modeling (BIM), que está longe de ser apenas um recurso para criar modelos 3D, se consolidando como uma metodologia estratégica no setor, principalmente com a Lei de Licitações, que torna o seu uso obrigatório em obras públicas no Brasil.
Sendo definido como uso de uma representação digital compartilhada de um ativo construído para facilitar os processos de projeto, construção e operação, o BIM é uma base confiável para tomada de decisões.. Essa metodologia permite transformar intenções de sustentabilidade em resultados mensuráveis, verificáveis e certificáveis. Logo, adotar o BIM hoje não é uma mera questão de digitalizar o processo, mas sim de mudar o conceito para um projeto colaborativo, integrado e com uma visão mais holística do ciclo de vida da construção.
Níveis e tipos de requisitos de informação necessários ao longo do ciclo de vida de um ativo construído
No contexto da metodologia BIM (Building Information Modeling) e, em particular, com base nas normas ISO 19650, diferentes níveis e tipos de requisitos de informação são necessários ao longo do ciclo de vida de um ativo construído. Tudo começa com o processo de definição de requisitos. Esses objetivos organizacionais, incluindo os associados à sustentabilidade, definem quais requisitos de informação são necessários para a organização. O OIR (Organization Information Requirement) define os requisitos de informação em ativos, e o AIR (Asset Information Requirement), por sua vez, ajuda a definir os requisitos de troca de informação, ou EIR (Exchange Information Requirement).
Em um processo BIM, com esses requisitos de informação bem definidos, o executor cria um plano de execução, chamado PEB (Plano de Execução BIM), que vai garantir o uso de técnicas e processos para se ter rastreabilidade, governança, uso de materiais de forma otimizada, geração de simulações e análises de desempenhos, além de outros pontos associados à busca por sustentabilidade.
Seguindo esses passos, os objetivos ESG serão explicitamente integrados desde o início. Além disso, essa abordagem proativa é fundamental para obter certificações de sustentabilidade e bem-estar social internacionais como LEED (Leadership in Energy and Environmental Design), BREEAM (Building Research Establishment Environmental Assessment Method) e WELL, a certificação do International WELL Building Institute (IWBI) que atesta edifícios e espaços projetados para apoiar a saúde e o bem-estar físico e mental dos ocupantes.
Indo para uma perspectiva mais centralizada nos pilares ESG, a seguir são exemplificadas ações concretas e resultados mensuráveis.
Ambiental (E)
A metodologia BIM promove projetos mais sustentáveis e eficientes ao considerar todo o ciclo de vida das construções, desde o planejamento até o descomissionamento. Por meio de simulações que analisam eficiência energética, iluminação natural, climatização e uso de energias renováveis, é possível tomar decisões baseadas em dados, reduzindo a pegada de carbono e viabilizando projetos de carbono zero.
O BIM também mapeia emissões geradas pelos materiais, transporte e montagem, além de permitir a rastreabilidade e o reuso inteligente de recursos, fortalecendo a economia circular. Essa abordagem estende-se ao descarte e reciclagem de componentes, contribuindo para a redução de resíduos sólidos. Outro avanço é a eliminação do papel, com o conceito de Model as Legal Document (MALD), já adotado em diversos estados norte-americanos, nos quais o modelo digital substitui totalmente documentos 2D, consolidando o BIM como instrumento central da sustentabilidade ambiental na construção.
Social (S)
O pilar social do BIM está alinhado às diretrizes da ONU-Habitat e à Agenda 21, que defendem moradia adequada, desenvolvimento sustentável e equidade econômica. A metodologia reforça o design centrado no ser humano, utilizando simulações de iluminação natural, ventilação e conforto acústico para criar ambientes mais saudáveis e produtivos, aplicáveis não apenas no projeto, mas também na construção e operação das edificações. Além disso, os recursos BIM 4D e 5D permitem otimizar tempo e custos, reduzir desperdícios e elevar os padrões de segurança nos canteiros de obras, promovendo uma construção mais inclusiva, eficiente e socialmente responsável.
Governança (G)
No pilar da Governança, o BIM se destaca por garantir transparência e rastreabilidade em todo o ciclo de vida do ativo, criando uma trilha de auditoria digital que registra decisões e dados de forma estruturada e verificável. Essa capacidade fortalece a confiança de investidores e partes interessadas ao combater o greenwashing com métricas ESG concretas e auditáveis. Além disso, os processos BIM são baseados em normas que asseguram uma gestão eficiente da informação, evitando retrabalho, falhas de coordenação e perda de dados, que são desafios recorrentes nos métodos tradicionais, consolidando o BIM como uma ferramenta essencial para a governança responsável e a integridade das construções.
Futuro
Após a entrega, o modelo BIM evolui para um Gêmeo Digital (Digital Twin), que, conectado a sensores IoT (Internet of Things), monitora o desempenho do edifício em tempo real, considerando consumo de energia, água, qualidade do ar e emissões. Essa operação baseada em dados permite a otimização contínua e a geração de relatórios ESG automatizados, alinhados a padrões globais e aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU (Organização das Nações Unidas).
À medida que o Brasil se prepara para a COP30, o setor da construção tem a oportunidade de liderar pelo exemplo. A Transformação Digital, impulsionada por marcos como a nova Lei de Licitações, já é uma realidade e a adoção do da metodologia BIM surge como uma estratégia necessária para a sobrevivência e competitividade no mercado, permitindo que a indústria da construção não apenas cumpra suas obrigações, mas que se posicione na vanguarda da inovação e construa um legado positivo para as próximas gerações.
