Digital Build Britain: estratégia para um mercado de 15 trilhões de libras

por Marcus Granadeiro

O mês que vem será um marco para o BIM (Building Information Modeling). Poucos estão se recordando, mas é no mês de abril de 2016 que encerra o prazo do governo inglês para que todos os projetos públicos estejam dentro do “BIM Level 2”. A meta foi lançada em 2011, foram cinco anos de adaptações para “preparar o terreno” para um enorme desafio. E como nossos amigos britânicos levam as coisas a sério, eles conseguiram.

O projeto é considerado segundo nível quando todas as disciplinas já estão em BIM, porém não necessariamente em modelos únicos ou compartilhados. Para ser nível 2 também é fundamental que a troca de informação entre os participantes se dê por meio do modelo e de desenhos bidimensionais. No Reino Unido, não houve a preponderância de um fabricante, assim cada parte fez uso da tecnologia que mais lhe conveio utilizando formatos padrão como IFC (Industry Foundation Class) e COBie (Construction Operations Builind Information Exchange) com meio comum de comunicação.

Para atingir o objetivo foi criado um grupo tarefa chamado UK BIM Task Group com a participação do governo, indústria e academia. Houve um investimento forte do governo e aplicação dos conceitos em projetos icônicos como uma linha de metrô que corta Londres chamada Crossrail, uma ferrovia da alta velocidade chamada High Speed 2 e um estabelecimento prisional, a Cookham Wood Young Offenders Institution.

Em documento recente, que lança o plano estratégico para a próxima fase do projeto, o secretário de estado britânico indica investimentos de mais de duzentos milhões de libras no projeto, além de mais de 600 milhões de libras para melhorar o sistema de internet inglês foram necessários para chegar onde chegaram. O mesmo documento tem uma declaração do representante da indústria indicando uma economia apurada, que só no ano de 2015 gerou mais de 800 milhões de libras em função do projeto. O governo investiu. A infraestrutura do país, que já deveria ser boa se comparada com nossos padrões, ficou melhor, e o resultado final ficou zerado com os investimentos compensados pela redução de perdas. O resultado é um Reino Unido mais competitivo.

E o futuro? Virá o BIM nível 3?

Para os britânicos o pensamento já vai além. Nesta nova fase, o BIM fica em um segundo plano e entra o conceito do “Digital”, o slogan passa a ser Digital Build Britain. No plano estratégico, que indica o que o projeto pensa além do próximo mês, ele apresenta este novo conceito no qual entende que a tecnologia BIM combinada com a internet das coisas, big data e economia digital vai ganhar uma sinergia que permitirá construir com menor custo, operar e manter com mais eficiência. Este novo conjunto de tecnologias passa a se chamar Digital Build.

O objetivo do Digital Build Britain é exportar tecnologia e serviços, além de competir em um mercado global estimado em 15 trilhões de libras em 2025. A capacitação em modelagem, simulações e projeto em BIM já foi adquirida com os investimentos realizados. Os objetivos traçados para o futuro são quebrar algumas barreiras e obstáculos detectados, além das questões tecnológicas. São eles: (i) aprimorar os padrões de dados abertos para facilitar a comunicação e troca de dados entre participantes do processo; (ii) criar um novo framework para contratos de projetos e obras, permitindo incluir mais adequadamente o processo BIM e evitando riscos e incentivando a colaboração e (iii) disseminar cultura de colaboração e compartilhamento de conhecimento e aprendizagem.

Olhar o projeto BIM britânico é muito interessante ao Brasil não só sob o ponto de vista da engenharia e da tecnologia, mas, sobretudo do ponto de vista organizacional e institucional. É muito interessante e exemplar o processo. A organização e os resultados deste grupo tarefa poderia ser um exemplo para desenvolvimentos aqui no Brasil. Exemplo de como o governo, a academia e a indústria se relaciona de forma saudável, transparente e benéfica para o país.

Marcus Granadeiro é engenheiro civil formado pela Escola Politécnica da USP, sócio-diretor do Construtivo, empresa de tecnologia com DNA de engenharia, membro do RICS – Royal Institution of Chartered Surveyors (MRICS) e do ADN (Autodesk Development Network) e certificado em Transformação Digital pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT)