Desenvolvimento de infraestrutura no Brasil: repensando paradigmas e adotando a metodologia Lean

por Marcus Granadeiro

O fato de que o Brasil carece de obras de infraestrutura é incontestável. O desafio de como construir e, principalmente, como manter toda a infraestrutura necessária para nosso desenvolvimento é enorme. A limitação de recursos é amplamente debatida, assim como as questões associadas à compatibilização desse desenvolvimento com a preservação do meio ambiente, entre outros fatores que, muitas vezes, saem do escopo da engenharia.

Há muita coisa que pode ser feita e melhorada para ajudar, para ganhar produtividade e para reduzir custos e impactos causados ao meio ambiente dentro da engenharia. A introdução de processos BIM está entre as ações desse movimento, que, com certeza, vai contribuir tanto na fase de construção, quanto nas demais fases do ciclo de vida do empreendimento.

Um ponto importante é parar e repensar alguns paradigmas e processos. Temos um histórico de muitas obras com atraso, com orçamento estourado ou que simplesmente não terminaram. Apenas no estado de São Paulo, de acordo com o painel de monitoramento do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, são registradas atualmente mais de 700 obras atrasadas ou paralisadas, sendo que raramente uma obra deste tipo é realizada sem gerenciamento ou supervisão.

Nesse contexto, vale o questionamento de quão eficiente está sendo esse gerenciamento e supervisão, o quanto está servindo para evitar atrasos, estouros de orçamento e contribuindo para a redução dos riscos de paralisação. É preciso pensar se a maneira como estamos fazendo está sendo apenas uma forma de documentar os problemas e atividades, de maneira mecânica, para atender eventuais burocracias.

Ao refletir sobre o tema, é inevitável pensar no conceito Lean, que tem como objetivo uma gestão enxuta e ágil, além de promover uma dinâmica enxuta para que se limite aos recursos necessários à realização do trabalho, integrando e utilizando tecnologia para, com menos processos, fazer de maneira mais eficiente o que deve ser feito.

Nesse sentido, a busca pela re-engenharia das rotinas de gerenciamento e supervisão se faz necessária, não colocando no digital os processos atuais que não estão eficazes, mas sim pensando em como deixá-los mais diretos para prevenir, e não apenas documentar, atrasos e estouros de orçamento.

Marcus Granadeiro é engenheiro civil formado pela Escola Politécnica da USP, sócio-diretor do Construtivo, empresa de tecnologia com DNA de engenharia, membro do RICS – Royal Institution of Chartered Surveyors (MRICS) e do ADN (Autodesk Development Network) e certificado em Transformação Digital pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT)