BIM, a barreira não é mais tecnológica. Chama o síndico!

por Marcus Granadeiro

A tecnologia deixou de ser a barreira para o avanço do BIM (Building Information Modeling). Atualmente o que impede de colhermos as benesses do BIM são os atuais paradigmas sobre o processo de contratação, planejamento e visão de valor atribuído às diversas partes do processo.

Alguns paradigmas de mercado precisam ser revistos, tais como licitar obras apenas com o projeto básico, realizar o detalhamento dos projetos segregado do planejamento de sua execução, propor projeto em paralelo com a obra para “ganhar tempo”, imaginar que pagar mais por projetos irá impactar negativamente o preço global do empreendimento e pensar que BIM é um modismo que não serve para o Brasil.

A atual crise na engenharia mostra que será preciso fazer diferente para que os resultados sejam diferentes. Estamos caminhando para o fim dos contratos baseados em acertos, é premente a necessidade da engenharia consultiva vender algo além de “hora/homem”. As discussões sobre estes temas devem passar pelo BIM.

Obter maior assertividade sobre os projetos, eliminar o risco de incompatibilidades entre disciplinas, garantir sua construtibilidade no prazo previsto, realizar uma supervisão de obra eficiente e eficaz, assegurando prazo e custo, conseguir vislumbrar cenários e impactos que os imprevistos trariam à obra, realizando um gerenciamento de risco adequado, são exemplos da contribuição do setor da engenharia para mudar este cenário. Em todos os casos já não existe mais a barreira tecnológica, mas sim a necessidade de se quebrar paradigmas. Tecnologia hoje há de sobra.

Com o BIM se pode ir além de modelar o empreendimento em 3D: é possível simular a construção do grau de detalhe que se desejar, simular os custos, estudar o possível impacto de um atraso de licenciamento ou rompimento de contrato no prazo e custo, isso sem falar da simulação da operação e consumo de recursos na fase de uso, na qual é possível estudar o custo-benefício de alternativas que poderiam parecer mais custosas em um primeiro momento, porém levariam a soluções muito mais sustentáveis.

Com tantas possibilidades já apresentadas e demonstradas por diversos fornecedores, qual é a razão para se licitar apenas com base no projeto básico em 2D? Por que não projetar de forma integrada com o planejamento? Como ainda ter as compatibilizações entre disciplinas sendo feitas com base em desenhos 2D e de forma manual? Por que o projeto executivo ainda continua sendo desenvolvido em “paralelo com a obra” e geralmente contratado junto com ela? Isso não representa agregar um risco e custo desnecessário ao empreendimento? Por qual razão nos editais de gerenciamento e supervisão ainda só tem espaço para orçar “hora/homem” e quase nada em relação a custo de tecnologia?

Não há respostas lógicas para as perguntas acima, continuamos a gastar mais, a fazer projetos com alto risco, continuamos a entregar obras com preço alto e prazo estourado por inércia, pela falta de pensar nos paradigmas, por não pensar na tecnologia associada ao negócio. Ainda existe no mercado o entendimento que tempo de projeto é tempo perdido, que engenharia é custo e não investimento, ainda existe o pensamento que o importante é começar logo a obra.

As coisas começarão a melhorar quando ao invés de se preocupar em prazos para começar a obra passarmos a nos preocupar em prazos e custos para terminá-la. A engenharia deve aprender com o marketing a se valorizar e mostrar o valor do que pode trazer à sociedade. Alô WBrasil, chama o síndico!

Marcus Granadeiro é engenheiro civil formado pela Escola Politécnica da USP, sócio-diretor do Construtivo, empresa de tecnologia com DNA de engenharia, membro do RICS – Royal Institution of Chartered Surveyors (MRICS) e do ADN (Autodesk Development Network) e certificado em Transformação Digital pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT)