A inovação do setor privado chegou à área pública?

por Marcus Granadeiro

Imaginando uma empresa de serviços, de produção de inteligência ou de engenharia, ao pensar em desenvolver um projeto e estruturar um orçamento de uma área, quais seriam os principais custos a serem levantados?  Esta estrutura de custos deve ser a mesma de dez ou vinte anos atrás?  Este ponto pode ter impacto no processo de inovação do setor?

No passado, o escritório era algo importante: salas de reunião, linhas telefônicas, servidores, teleconferências, aparelhos de fax, grandes equipes de apoio, como secretárias, office boys, cadistas, recepcionistas, garçons e por aí vai. Esses custos “necessários” eram considerados fixos e mereciam atenção especial. Hoje, entretanto, tudo é mais fluido, computadores de mesa deram lugar aos notebooks, o celular é o novo “canivete suíço”, o espaço é compartilhado, as reuniões acontecem em qualquer local e a rede corporativa é a nuvem.

Em uma cidade como São Paulo, o ideal não é ter um escritório, mas diversos, espalhados nas regiões onde estão os clientes, obras e colaboradores. Uma rede de escritórios é a forma de otimizar o tempo de todos os colaboradores. É diante deste cenário, estão crescendo os coworking e teletrabalhos.

Este tema também está associado a um aspecto que costumava ser importante:  a frota e o aluguel de carros. Quer ser competitivo? Esqueça essa mentalidade, otimize sua operação para o uso do transporte público e, ou modais compartilhados. O seu bolso e a cidade agradecem.

Por outro lado, um ponto que não era significativo, a tecnologia, passou a ser. A tecnologia não era listada, pois era considerada um ativo, como um investimento. Atualmente isso não faz mais sentido, pois estamos na era do software como serviço. Não se compra ou desenvolve software, o mercado já mostrou que o conceito correto é considerar a tecnologia um custo operacional, ou seja, pagar sob demanda.

Tudo isso parece muito lógico, porém aí vem uma dúvida: por que ainda temos a grande maioria dos editais públicos remunerando aluguel de escritório, aluguel de carro, quilometragem rodada, mas não apresentam nenhum item relativo à tecnologia?

Geralmente, são editais de projeto que não preveem o custo dos softwares de projeto, textos sobre gerenciamento que não têm espaço para gerenciamento de documentos e processos, assim como uma supervisão de obra que não prevê custo para soluções mobile. Indo além dos sistemas específicos, temos que citar as tecnologias de base como os computadores, editores de texto, planilhas, sistemas de planejamento e rede.

Para estes editais, todos estes custos não existem. Então, qual é o incentivo para inovar que o poder público está dando ao mercado? Este tipo de visão não seria um vetor que vem contribuindo com o atraso em nosso segmento?

O setor público caminha na contramão do privado quando o assunto é evoluir os processos para um mundo digital. Está, ou melhor, já passou da hora de rever este cenário se quisermos, de fato, transformar o mercado.

Marcus Granadeiro é engenheiro civil formado pela Escola Politécnica da USP, sócio-diretor do Construtivo, empresa de tecnologia com DNA de engenharia, membro do RICS – Royal Institution of Chartered Surveyors (MRICS) e do ADN (Autodesk Development Network) e certificado em Transformação Digital pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT)